Siemaco promove debate sobre desigualdade racial no mercado de trabalho

 Siemaco promove debate sobre desigualdade racial no mercado de trabalho

GAZ_2854.jpg Siemaco 1ª forum de debates Desigualdade Racial no Mercado de Trabalho

O 1º. Fórum de Debates realizado no auditório do Siemaco abordou o tema “Desigualdade Racial no Mercado de Trabalho”. Mais do que uma reflexão sobre a relação entre o capital e trabalhador, os palestrantes fizeram uma abrangente análise sobre sociedade brasileira atual. Das políticas públicas à partidária; das oportunidades às desigualdades sociais; das conquistas aos novos desafios. Sobretudo, concordaram que o racismo atinge não apenas os negros, embora eles ainda sejam as maiores vítimas.

Coordenado pela Diretora Márcia Adão, responsável pela Secretaria da Mulher do Siemaco, o evento realizado ontem (29) contou com a participação de sindicalistas, trabalhadores, formadores de opinião e principalmente representantes do movimento negro. “Com 55 anos de história, o Siemaco há décadas luta não apenas pela melhoria salarial dos profissionais que prestam um serviço essencial para a cidade de São Paulo, mas para garantir a visibilidade, cuidando deles enquanto cidadãos. Afinal, só melhoramos enquanto pessoas através do acesso à informação”, disse Márcia, afirmando apenas “através do diálogo ampliamos o conhecimento”.

Na mesa de abertura, o presidente do Selur, Ariovaldo Caodaglio, disse que estava ali “para ouvir e aprender” enquanto o representante da Femaco e também diretor financeiro do Siemaco, Edson André dos Santos Filho, enfatizou que o papel do sindicato é esclarecer e defender os interesses da sociedade. Em nome da Secretaria da Diversidade da UGT, Patrícia dos Santos, também ressaltou a importância do mundo sindical abrir as suas portas para as questões sociais. “Basta sair às ruas e ver onde estão os postos de trabalho dos brancos e negros. Isso precisa mudar, pois há lugar para todos”, justificou.

Dívida histórica a ser revertida em desafio que pode mudar o futuro

“Estou surpreso, agradecido, emocionado e muito feliz pela oportunidade de falar diretamente a um público que é a grande vítima tanto do racismo quanto da discriminação”, afirmou o Professor Antonio Carlos Arruda da Silva, que palestrou sobre Políticas Públicas de Inclusão. O tema O Negro e as Oportunidades na Educação foi desenvolvido pela responsável pelo marketing e relacionamento da Universidade Zumbi dos Palmares, Valquíria de Oliveira Moraes, e o jornalista Dojival Vieira versou sobre o Negro no Mercado de Trabalho.

Não podemos admitir a invisibilidade

A militância na causa negra fez do professor Arruda uma referência no tema, inclusive pelas conquistas que ajudou a praticar. Para ele, é importante enfrentar a questão da desigualdade de frente. “Vivemos o mito da democracia e da igualdade de oportunidades. Somos diferentes, pois o povo brasileiro é formado por etnias distintas e precisamos desmontar a farsa de que não há discriminação no Brasil”.

A partir de fotografias, ele provou que a cor da pele, traços físicos ou culturais muitas vezes escondem talentos. Depois procovou: não podemos olhar para alguém e definir quem ele é! A descriminação gera a invisibilidade.

Insistiu no importante papel das políticas públicas de inclusão, que gerem oportunidades para todos. Principalmente que promovam e protejam aqueles que são excluídos, como os mais pobres. “ A discussão se dá pela falta de acesso, pois queremos que o conjunto da população tenha oportunidades”.

Promoção pela educação

“As pessoas, hoje, não sabem como lidar, onde colocar e até como chamar uma pessoa negra… Consequência da herança histórica de uma abolição mal gerida”, analisou Valquíria Moraes. Ao apresentar números da discriminação por raça, ela mostrou que apesar de 52% da população brasileira ter se declarado negro ou afro descendente no período que compreende os anos de 2001 e 2010, apenas 12% deles estão inseridos no mercado de trabalho, pelas empresas.

“Onde está o negro no mercado de trabalho? Talvez por isso 42% sejam considerados empreendedores”, questionou. Mostrou dados do IBGE apontam que a população brasileira formada pelos afro descendentes movimenta nada menos que R$ 700 bilhões, anualmente.

Citando a frase do reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, “sem educação não há liberdade”, Patrícia ressaltou que a missão da instituição é garantir conhecimento para negros e não negros. “Quando há conhecimento o indivíduo se desenvolve, se transforma, entende e descobre onde pode ir”. Concluiu afirmando que a discriminação não é apenas racial, mas de gênero e também de classe e que todas elas têm de ser combatidas. “Nenhum racismo dói mais ou é pior que o outro”, finalizou.

Mudar a situação atual e inserir a população negra é mudar o Brasil

Contundente, o jornalista e ativista Dojival Vieira dos Santos foi taxativo ao pensar o futuro. Provocativo, ele sugeriu que os horizontes sejam alargados.

“A população negra brasileira é vítima de um processo histórico perverso e hoje em dia vive a escravidão assalariada”, denunciou, lembrando que pior ainda foi o processo da escravidão contra os povos indígenas, que dizimou mais de cinco milhões de pessoas. Lembrou que restam no Brasil apenas 700 mil índios e que após o genocídio, das mil nações de antes apenas resistiram 237.

Em relação ao racismo contra o povo negro, enfatizou:  de cada dez dias de história do Brasil, sete vivemos sob o regime da escravidão, nos últimos 400 anos. “É preciso que o sangue indígena e negro gritem em cada indivíduo brasileiro”.

Para Dojival, mais do que negros e não negros, todos nós formamos o povo brasileiro e embora o Estado tenha sido construído sob a égide da cultura da escravidão é preciso resgatar a história, pois “não se muda o que não se conhece”. “O Brasil é a sétima economia do mundo, mas figura entre as dez nações mais desiguais”.

A indignação tem de estar alicerçada pela informação, deixando a “vitimização” e o conformismo de lado, argumentou Dojival. “Um povo que viveu 400 anos de escravidão não tem a real noção dos seus direitos”, salientando que o discurso anti-racista não basta,

O racismo de todos os dias

Na platéia, os ajudantes de serviços diversos Elvis Trindade, 20 anos, e Luiz Henrique Santos Freire, 22, não tinham muita noção do que é o racismo. Após o debate, ambos admitiram, contudo, viverem isso dia a dia, porém não são excluídos pelos colegas ou população, mas pela autoridades. Testemunharam, assim, uma entre tantas denúncias dos palestrantes.

As abordagens policiais são frequentes na vida dos dois jovens. Quando estão uniformizados são trabalhadores, mas nos outros momentos são “suspeitos”, pois são jovens e afro-descentes. “A abordagem dos policiais contra mim é sempre diferente, pois sou negro. Para evitar problemas eu tento falar o menos possível quando isso acontece”, dissse Luiz Henrique, que não deve nada ao Estado.

O pernambucano Elvis concordou com o colega, pos frequentemente é parado como suspeito, pelos polilciais. Afirmou ter gostado de conhecer a sede do Siemaco e participar do debate. “A Limpeza Urbana me ensinou muito. Por exemplo a cuidar do que eu jogo fora. Como o palestrante falou, quando a gente está num shopping e joga o que comeu na lixeira e também na rua”.

Alfredo de Oliveira Neto, presidente do Conselho Nacional Afro Brasileiro, entende que além de conscientizar a população, através de todos os fóruns possíveis, a militância tem de ocupar os espaços. “Temos de tornar claro a nossa indignação na luta contra o racismo, por isso são fundamentais ações como esse fórum, realizado pelo Siemaco”, finalizou.

Importante:

Dentre os mais de 120 mil trabalhadores do Asseio e Conservação, Limpeza Urbana e Áreas Verdes da cidade de São Paulo, representados pelo Siemaco, 70% são afrodescendentes.