O protagonismo de quem sempre atuou nos bastidores

 O protagonismo de quem sempre atuou nos bastidores

Siemaco, projeto cidade linda, com o prefeito João Doria JR.

Um uniforme ao mesmo tempo distingue e esconde um profissional. Ao vestir a roupa de trabalho, os profissionais tornam-se mais um e sua ausência apenas é notada quando ele não está a postos.

Em se tratando de Limpeza Urbana, uma cidade não pode prescindir do trabalho dos garis. Fundamentais, eles dão o destino correto aos resíduos produzidos pela população, zelam pelo espaço público e com o seu trabalho fundamental promovem a higiene, a  saúde e o bem-estar comum.

O real valor a quem merece

O ano-novo trouxe a grata surpresa aos trabalhadores da Limpeza Urbana. A rotina de trabalho não mudou, muito pelo contrário, pois ela foi intensificada. Os auxiliares de serviços diversos, bueiristas, coletores, coletores e equipes de apoio, entretanto, ficaram em evidência e por algumas horas ganharam colegas ilustres. Dentre eles o prefeito João Doria, que se vestiu como se fosse um deles.

“Quando colocamos a mesma roupa nada nos faz diferente”, filosofou o varredor Antonio Clavico. Há três décadas ele trabalha na Limpeza Urbana e divertiu-se ao ver tanta gente importante e famosa se misturar à multidão apenas por estar usando o uniforme igual ao dele. Salientou, entretanto: quando vestimos a roupa de gari não temos valor, mas somos importantes, pois cada um de nós desempenha uma função.

Sebastião Xavier é varredor há 26 anos. Apesar de ter ficado contente com a promessa do prefeito em valorizar a categoria, ele prefere esperar os resultados. “Vou pagar para ver”, disse desconfiado.

Para os colegas Laércio, Marcondes e Genilval, coletores que operam aspiradores de pó, a proposta do prefeito é boa. Em tempo de crise, entretanto, preferem não criar expectativas. “Somos humildes, dependemos desse trabalho.”

Aos 77 anos, Natalino Belo da Guarda recorreu à Limpeza Urbana há 35 ao vivenciar o desemprego, metalúrgico que era. Foi varredor e hoje corre atrás do caminhão coletando lixo. Pai de quatro filhos criados, ele é aposentado, mas sabe que não pode parar de trabalhar, pois a pensão é pouca. “Eu gosto de ser coletor, de trabalhar na limpeza urbana”, disse o veternao que parece ter menos idade, graças ao vigor físico e a pele sem rugas.

Parceria público-privado

De acordo com a prefeitura, os mutirões que irão acontecer semanalmente e que integram a parceria entre as empresas de Limpeza Urbana e a prefeitura municipal não terão custos adicionais para o serviço público, pois trata-se de uma parceria. A prefeitura alega que os serviços serão prestados de forma voluntária pelas empresas.

O presidente da Estre, Wilson Quintella, viu com bons olhos o fato de o prefeito de São Paulo vestir-se de gari. Ele viveu a mesma experiência, há cinco anos. Garantiu que assimilou muitas lições.

“Foi uma delícia, um aprendizado incrível que mudou inclusive a minha forma de me relacionar com as pessoas e os meus colaboradores”, contou. Foi um dia inteiro de trabalho coletando resíduos, quando correu 25 quilômetros atrás de um caminhão.

“O lixo é só o começo”, repetiu o slogan da sua empresa. Também ressaltou que o segmento da Limpeza Urbana ainda requer visibilidade, assim como o trabalhador busca a valorização. “As cidades precisam se preocupar com o seu lixo. Ainda falta conscientização”, ressaltou.

Para o Diretor Executivo da Inova GSU, José Reginaldo Bezerra da Silva, vestir-se de gari foi uma atitude nobre do prefeito, que valorizou a categoria. “Os garis são seres humanos que trabalham 24 horas por dia pelo bem da cidade de São Paulo”, endossou. Ele fez questão de também vestir o uniforme, numa homenagem aos seus funcionários. 

Lembrando o compromisso que as empresas do segmento da Limpeza Urbana têm com a população, ele não titubeou ao aceitar o convite de João Dória para participar do programa “Cidade Linda”, pois acredita que a ação irá repercutir na valorização da categoria. Anunciou ainda que os contratos de varrição com a Inova foram prorrogados por mais um ano, que ao lado da Soma emprega cerca de 12 mil profissionais que atuam nas ruas de São Paulo. 

Uma vida esperando um trabalho formal

Roberto saiu de casa aos oito anos de idade e já fez de tudo na vida, menos conseguir a dignidade que tanto anseia. Em situação de rua, ele denunciava o descaso do poder público.

“As políticas públicas não chegam até nós”, reclamou afirmando que respeita as entidades, os trabalhadores, mas que o prefeito tem de fazer “menos mídia e mais ação”. Pelo menos ele conseguiu ser ouvido, pois João Dória parou para conversar com ele.

“Trabalhei a vida toda, mas não consegui nada… O meu sonho é o mesmo de todo brasileiro: saúde, moradia, trabalho e dignidade”, desabafou.

Quanto ao fato de ter sido tirado do viaduto onde morava, alegou que isso acontece diariamente e a culpa não é dos garis. “A Limpeza Urbana não pode carregar essa culpa, mas conscientização é a palavra que está faltando na nossa sociedade”, disse o cidadão brasileiro que não tem direitos, mas uma lucidez impressionante.