Escola que é quase um lar

 Escola que é quase um lar

GzT20317.JPG Siemaco, sindicato dos garis, creche na zona leste

Numa casinha azul, na Rua dos Cristais, são lapidados seres humanos em formação. Um lugar onde a vida real é a lição a ser aprendida e o objetivo a superação dos desafios rumo a um futuro melhor. No número 66 funciona o Centro de Convivência Infantil “Aida Visconde Bastos”, a segunda casa de crianças de nove meses a cinco anos de idade.  Onde sobra amor, cuidado, competência, informação, educação. Alimentos para o corpo e a alma.

Mantida pelo Siemaco, é o porto seguro para as crianças matriculadas, filhos de trabalhadores das categorias representadas pelo sindicato. Embora regida pelas normas da Secretaria Municipal de Educação e Leis de Diretrizes Básicas, presta assistência especial, respeitando as características e horários peculiares das famílias assistidas. Profissionais da base da pirâmide às áreas administrativas das empresas dos segmentos de Asseio e Conservação, Limpeza Urbana e Áreas Verdes.

Dia de bagunça

Na sexta-feira gorda (24) o dia foi de folia, aproveitando a temática do carnaval. As crianças se fantasiaram de seus heróis e personagens preferidos, dançaram na matinê, tomaram banho nas piscinas improvisadas e apresentaram criações coletivas baseadas em marchinhas tradicionais. A ideia foi aproveitar a cultura popular para focar temas atuais.

Por exemplo, a marchinha ”Tomara que Chova”, debatida pela turminha da professora Bárbara, levou os alunos do Infantil II, de apenas quatro anos, a refletirem como a crise hídrica afeta a sociedade, as suas casas e o cotidiano mundial.  Também foram analisadas as canções: Mamãe Eu Quero, Me Dá um Dinheiro e A Bruxa Vem Aí.

“Eu sou Isabela, que solta fogo pela boca e voa”, brincava Julia, vestida de havaiana. Ao seu lado Ruan, com máscara de Hulk era a meiguice em forma de criança. Eric, Ana Luisa e os coleguinhas, com os cabelos coloridos e caras pintadas, dançavam aguardando o momento de brincar com água.

“Eu gosto muito daqui. Por que eu gosto? Porque eu gosto”, resumiu David. Sofia, que se formou no ano passado, provou que o colega estava certo ao pedir para matar a saudades da escola onde a irmã continua estudando. “Ela sente falta daqui“, argumentou o pai às professoras.

Chegada dos bebês

Do outro lado da festa, 18 bebês trouxeram uma nova dinâmica ao lugar. Para atendê-los, a creche sofreu adaptações. “Era uma antiga reivindicação dos pais, que não tinham com quem deixar as crianças de forma segura”, contou a diretora pedagógica Gisele Maria Leite.

O ideal, segundo ela, seria receber os bebês aos quatro meses, com o retorno das mães ao trabalho, mas infelizmente não há como atender essa demanda, por falta de espaço e estrutura, mas não de vontade.  As novas vagas estão sendo ocupadas por ordem de chegada.

A novidade gerou uma mudança no calendário anual que, excepcionalmente em 2017, começou no dia seis de fevereiro. Com uma equipe pedagógica enxuta – seis professoras, duas auxiliares de educação infantil, além da equipe de apoio formada por dois auxiliares de limpeza, duas cozinheiras, um auxiliar de manutenção e uma auxiliar administrativa, a creche surpreende pela eficiência no trabalho realizado. “Aqui todos cuidam de crianças”, garantiu Gisele.

Orientados pela linha construtivista, os alunos aprendem pela vivência ao partilharem experiências. Aos cinco anos estão alfabetizadas e aptos a ingressarem no ensino fundamental. “Muitos dos nossos ex-alunos conseguem bolsas de estudos nas escolas particulares da região”, conta a diretora.

Driblando os limites

Para a pedagoga, que abriu mão da escola da família para cuidar da creche do Siemaco, o diferencial do trabalho realizado é o conhecimento da história e realidade de todas as famílias atendidas. Não há limites para Gisele, que graças à reputação de duas décadas dedicadas ao ensino tem muitos amigos e parceiros que a ajudam a realizar até mesmo as mais difíceis missões em prol das crianças e trabalhadores. “Recebemos muitas doações, de roupas, alimentos e brinquedos”, conta agradecida. Afinal, as crianças têm irmãos maiores ou menores do que eles…

Acreditando no olhar pedagógico crítico e estimulador, ela educa as crianças para “a vida”. Seja através dos livros, dos brinquedos pedagógicos, estimulação do conhecimento, compartlhamento e valorização do indivíduo, Gisele não se limita ao que pode fazer, mas oferece o melhor. Uma tarefa nem sempre fácil.

Como as realidades dos alunos são díspares, desde pais que levam e buscam os filhos na creche de carro até aqueles que pegam seis conduções por dia, a creche funciona em horário estendido. No ano passado eram 56 alunos e em 2017 há 74 vagas.

Como em todas as escolas, muitas vezes problemas de saúde, inclusive deficiências importantes são identificadas pelos professores. Como nem sempre há recursos, conhecimento ou tempo hábil, cabe à direção encontrar alternativas para encaminhamento terapêutico e estimulação. Alí, crianças com deficiências físicas ou intelectuas são integradas, estimuladas e orientadas. Já as que têm doenças diagnosticadas, tratadas.

Com muito respeito e dedicação, as crianças aprendem no dia a dia a prática da convivência, da tolerância, da ajuda mútua, do respeito, da amizade. É assim que a creche do Siemaco transforma alunos em crianças felizes!