Crime organizado está envolvido nas invasões em condomínios residenciais

 Crime organizado está envolvido nas invasões em condomínios residenciais

O Tenente Coronel Wilson de Barros Consani Júnior causou impacto, gerou reflexão e um debate acirrado ao ministrar a palestra “Segurança em Condomínios: identificando falhas e aperfeiçoando a proteção Patrimonial e Pessoal”. Ele afirmou que os condomínios não costumam ser o alvo de ladrões comuns, mas de facções criminosas.

Ao alertar sobre o papel e responsabilidades das empresas prestadoras de serviço e dos profissionais de portaria/controladoria de acesso, ele destacou que na maioria dos casos de assalto os bandidos entram nas residenciais pela porta da frente. Seja a portaria principal ou garagem. Também, que a informação privilegiada, que viabiliza a invasão, vem de dentro dos condomínios.

“O crime organizado investe em sistemas de inteligência, equipamentos e tem penetração em toda a sociedade (inclusive autoridades). O alvo é custear o negócio das drogas que permite o lucro. Por isso, regras não são suficientes para garantir a segurança. É preciso conhecer o inimigo para entender contra quem lutar”, alertou o palestrante, que é tenente-coronel reformado da Política Militar. 

Defendeu a criação e adoção de um protocolo de procedimentos padrão, que esteja alinhado com os condôminos, com aprovação da em Assembleia. A diretora Karine Karen, responsável pelo trabalho sindical em condomínios convidou os gestores, supervisores e porteiros presentes a construírem um documento em conjunto, que possa ser adaptado pelas empresas.

Alvos lucrativos

Quebrando paradigmas, Consani mostrou que maioria das empresas não estão preparadas para enfrentar o crime organizado, inclusive porque os moradores em condomínios não gostam de regras. Lembrou que o porteiro/ controlador de acesso nem sempre é respeitado ao tentar aplicá-las e lamentou que ainda é comum o profisisonal ser demitido a mando do cliente quando insiste em cumprir as normas.

Por outro lado, são eles e os moradores que, informalmente, acabam dando dicas sobre os condomínios ou facilitam a entrada de bandidos disfarçados em prestadores de serviço ou visitantes.  Afinal, o crime organizado sabe como se infiltrar, seja no ônibus, na padaria, puxar conversa com pessoas ligadas aos moradores e com eles próprios.

Neutralizar a ação do inimigo, apesar de não ser uma tarefa fácil é factível, mostrou o tenente coronel.  Na maioria dos casos eles agem em grupos de  quatro até 15 pessoas, entram nos condomínios pelo acesso principal, com entrada franqueada pelo porteiro de forma involuntária. “O único trunfo para combater a ação criminosa é através de treinamento”, enfatizou.

Todo cuidado é pouco, inclusive com os folguistas, que podem facilmente serem “plantados” pelas quadrilhas. Por outro lado, depois da invasão o ideal a fazer seria deixar os bandidos saírem do prédio, pois uma ação policial implica em risco adicionais, com cercos e reféns.

Consani defendeu que a melhor estratégia para combater a maioria dos problemas, seja de segurança ou relacionamento, é elaborar um Protocolo de Procedimentos claro e suscito. Um documento padão que não deixa margens à dúvidas, que faz o profissional agir da maneira esperada sem dar margem aos improvisos.

“A sua empresa está preparada para perder um cliente para garantir um trabalho bem feito, que garanta a segurança?”, questionou. Uma pergunta difícil de ser respondida.

A maioria dos convidados, contudo, querem a parceria do sindicato para redigir o documento e aprender mais sobre prevenção. Afinal, o inimigo é poderoso e está em toda parte, ameaçando patrimônios e o maior deles: vidas!

Quanto aos equipamentos de segurança, apesar de importantes, mas não substituem ou superam a presença do profissional bem treinado. Portões eletrônicos, câmaras, sistemas de comunicação inteligentes são acessórios. Já o botão de pânico é obsoleto, argumentou o palestrante.

“O porteiro/controlador de acesso é o ator principal, que conhece os condôminos”, afirmou, lembrando que o diálogo com a administração, o síndico e o zelador são fundamentais. Ele insistiu que qualificação, informação de qualidade, além de estratégias de gerenciamento de risco são definitivas para uma prestação de serviços de qualidade e a altura do combate às invasões.

O tenente coronel Consani finalizou dizendo que os condomínios se diferem geográfica e arquitetonicamente, por isso é preciso adequar as medidas de segurança a partir de um padrão. Em hipótese alguma procedimentos podem ser desconsiderados.

Construindo um relacionamento

Falando aos profissionais representantes de dez empresas presentes (Supplly, Guima Conseco, Power, Victor Worck, Alpha Gama, Konserv, Aster, Resolve, Belga Max, DL Grill, Monteiro)  a diretora Karine disse que a construção de uma relacionamento entre empresas, funcionários e sindicato é essencial. “O Siemaco trabalha pelo bem comum, estamos dispostos a trabalhar juntos pela melhoria da prestação de serviços em portaria e valorização do segmento.”

Pouco antes da palestra começar, o gerente do Grupo Monteiro, Otávio Moraes Dantas Filho, falou dos riscos iminentes na prestação de serviços. Ele fez questão de convidar dois de seus colaboradores (controladores de acesso que prestam serviço no sindicato) para participarem do evento. Todos disseram-se satisfeitos no final.

“Eu fui escolhido para vir aqui, aprender mais”, contou o porteiro Hebet dos Santos Salles. Aos 21 anos, ele trabalha há três, como controlador de acesso no Edifício Itália, pela Victor Work. Estava curioso e feliz por conhecer o sindicato que o representa.

 “Adorei a palestra, que tocou na principal ferida das empresas que atuam no segmento da portaria, disse Carlos Manfredo, da Resolve. Seu colega,Rudney Gomes dos Santos disse que foram abordados 50% dos problemas enfrentados. Os dois, que participaram do primeiro encontro, em dezembro passado, já confirmaram presença no próximo e disseram terem muito a questionar, discutir, aprender e compartilhar.

O coordenador operacional e o diretor do departamento pessoal da BelgaMax, Arnaldo Grego e Osvaldo Silva, esperam que os conceitos abordados sejam aprofundados num próximo encontro. Já o líder de portaria Osni Batista, da DL Green, se identificou com muitos dos tópicos abordados, principalmente o confronto com moradores, que não querem cumprir as regras estabelecidas e pedidos de troca e demissão de porteiros. “Gostei da visão aberta do palestrante, que  nos orientou e mostrou caminhos”, resumiu.