Símbolo da mulher brasileira, Leci Brandão defende a importância dos sindicatos

 Símbolo da mulher brasileira, Leci Brandão defende a importância dos sindicatos

GzT22458.JPG Siemaco, dia do trabalhador 2017, dia do gari, Solenidade

Convidada especial do Siemaco, a cantora, compositora, ativista social e política, a deputada estadual Leci Brandão simboliza o trabalhador brasileiro. Filha de profissional da limpeza, ela cresceu nas escolas públicas do Rio de Janeiro ajudando a mãe a limpar salas de aula, mas foi em São Paulo, na década de 1980, que ela tornou-se porta-voz das minorias.

Confessando estar mais emocionada do que honrada com o convite do Siemaco, Leci contou um pouco da sua história de vida, de resistência e de superação. Consciente do cenário atual da política nacional, afirmou:

“Este país está querendo acabar com os sindicatos. Vocês não podem deixar isso acontecer. Os sindicatos protegem os trabalhadores!”.

Aos 72 anos e 42 anos de carreira músical, Leci recebeu com carinho o convite do Siemaco para falar aos trabalhadores numa data tão importante. Sobretudo por se identificar com o perfil dos trabalhadores, pela sua história de vida.

Ela endossou a importãncia do projeto “Ocupação Cultural”, que abrirá o palco do teatro do sindicato para os artistas anônimos ou não. “O povo gosta de cultura”, afirmou.

Mulher, negra, humilde e vitoriosa

“Vou contar um pouco da história da minha vida, que é muito parecida com a de alguns de vocês. Em 1959 eu vivia nos fundos das escolas públicas do Rio de Janeiro, onde minha mãe, então servente e hoje com 92 anos, trabalhou limpando salas de aula em Madureira, onde nasci, e nos bairros da Pavuna e Realengo.

“Eu tinha calos nas mãos de tanto varrer. Limpávamos em média 25 salas de aula, duas vezes por dia, mas com esse trabalho fomos conquistando as coisas…”, lembrou contando que varria cantando ao som do rádio de pilha, pois sempre gostou de música.“A vida me fez entender que quando você trabalha e tem fé, acredita, você consegue o que quer.

Confessou que ainda hoje, quando entra num camarim empoeirado, pega um paninho e começo a limpar… Sou prova de que poeira não dá alergia”, brincou. “Eu sempre cantei sobre o mundo que eu conhecia. O povo, as favelas, o universo em que eu estava inserida”, completou.

Nos anos 1980 Leci migrou para São Paulo e viu a vida se transformar. Conquistou espaço como cantora, compositora e o sucesso chegou. Recebeu o disco de ouro e o título de cidadã paulistana. Este ano, foi personagem do samba-enredo campeã do carnaval paulista (2017), pela escola Acadêmicos do Tatuapé. “Eu devo tudo a São Paulo!”.

Apesar de ter cursado apenas a universidade da vida, Leci foi além. Eleita a segunda deputada estadual negra por São Paulo está no seu segundo mandato pelo PCdoB. “Eu nunca quis ser política, não pedi para concorrer. Fui convidada e eleita pelo povo.”

Orgulho da origem humilde

Não foi fácil. Antes disso, Leci conviveu com o preconceito e discriminação. Sobretudo o racismo. “Eu era barrada nos processos seletivos no processo “psicotécnico”. Ou melhor, boa aparência, quando os candidatos negros eram barrados.

Denunciando que o Brasil é uma nação racista, alertou que o povo brasileiro convive com a discriminação generalizada por cor, sexo, opção sexual, religiosa e tudo o mais. Por outro lado, o povo brasileiro é forte, lindo e pode modificar esta realidade. Afinal, “o ser humano é igual abaixo de Deus.”

Aos profissionais da limpeza, Leci, orientou: briguem pelos seus direitos, pelos seus sindicatos que ajudam vocês. Colocou-se à disposição dos trabalhadores e diretoria sindical para proporem juntos projetos de lei que favoreçam as categorias representadas pelo Siemaco. “É possível pegar as ideias do povo, a organização do sindicato e fazer alianças políticas e propor leis que favoreçam os trabalhadores.”

Finalizando, Leci disse que espera que o teatro do Siemaco torne-se um palco popular beneficiando a sociedade artística e popular. Depois, aceitou dar uma palhinha e cantou, de improviso e genrosamente, a música “Zé do Caroço”, acompanhada pelos assessore sindicais: Márcio, no Tantan; Marlon, no Cavaquinho eThiago, no pandeiro, e palteia. Depois, foi homenageada com flores pelo trabalhador, senhor Sebastião. 

“Leci é sambista das boas, idealista como poucos e parceira de luta! Exemplo vivo de que, realmente, nós podemos tudo!”, afirmou a mestre de cerimônias, Silvana Souza, representando a diretoria do Siemaco.