Seminário da CONASCON leva movimentos sociais para discussão sobre o Mês da Consciência Negra no SIEMACO-SP
Encerrando o mês da Consciência Negra, o SIEMACO São Paulo recebeu, na última quinta-feira (28), em seu auditório, o seminário “A população negra no mercado de trabalho e suas diversidades”, uma realização da CONASCON, com apoio da União Geral dos Trabalhadores (UST), que teve a participação de lideranças, trabalhadores e trabalhadoras e todo o Brasil, onde foram realizadas palestras e debates sobre temas ligados às questões raciais, além de apresentações de grupos que valorizam as tradições africanas, como o grupo de capoeira do Mestre Onça.
A Secretária Geral do SIEMACO-SP e diretora da CONASCON, Márcia Adão, abriu o evento enaltecendo a importância destes espaços de discussão e lembrando que a luta pela igualdade é permanente. “Precisamos abrir mais espaços de diálogo, para entendermos nossa sociedade, sabermos como cobrar direitos e nos empoderarmos. O preconceito ainda é um grande entrave no mercado de trabalho e a população negra, principalmente da periferia, é a que mais sobre pela falta de oportunidade”, disse.
Na mesa de abertura estavam presentes ainda o presidente da UGT, Ricardo Patah, o dirigente do SEAC (sindicato patronal do asseio e conservação), Hamilton Saraiva, a diretora da diversidade CONASCON, Ana Cristina Duarte, Cleonice Caetano, diretora do Sindicato dos Comerciário de São Paulo, e o diretor Tesoureiro do SIEMACO-SP, André dos Santos, que representou o presidente da entidade, Moacyr Pereira, e agradeceu a presença de toos.
“Ficamos muito felizes em receber um evento importante como este. O nosso presidente, Moacyr, está viajando, mas fizemos questão de prestigiar este debate e representá-lo”, disse André.
Além das apresentações e palestras, o SIEMACO-SP abriu espaço para uma feira de artesanato Afro, com peças e artes que valorizam a cultura e artistas negros, organizados pelo Coletivo Meninas Mahin. Roupas com estampas africanas, bijuterias, objetos de decoração, bonecas e outros ítens, todos os objetos são elaborados e fabricados pelos artesãos que fazem parte do coletivo.
A primeira palestra teve um importante nome da discussão da população negra no mercado de trabalho, a procuradora Elisiane dos Santos, no Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP). Para a especialista, políticas públicas são essenciais para combater a diferença na oportunidade de trabalho para na oportunidade de trabalho para pessoas negras, além de uma iniciativa das empresas.
“É necessário que estas outras pessoas estejam presentes no quadro de trabalhadores das empresas. Hoje, nós temos uma quantidade muito grande de pessoas que estão qualificadas, que fizeram e concluíram o curso superior, que fizeram mestrado e doutorado e que não conseguem ingressar nesses espaços”, disse Elisiane.
Para Narjara Costa, socióloga e pesquisadora das relações raciais, falou das dificuldades que o racismo impõe a sociedade negra, além de nomes pejorativos que a sociedade aida utiliza no senso comum. “Termos como “mulata”, que vem do animal híbrido mula, um cruzamento que não deu certo, ainda são usadas para identificar mulheres negras. Esses termos só reforçam outros aspectos, como a população negra ter maior propensão a morrer com pouca idade, ter os piores salários e sofrer os maiores desgastes mentais oriundos de uma sociedade racialmente estratificada”, alerta.
Completando a fala da colega palestrante, o jornalista Juca Guimarães, reporte dos portais Brasil de Fato e Alma Preta, deixou claro que as “fake news” evidenciam o racismo. “A evolução da sociedade passa necessariamente pela cultura contra o racismo. A questão no Brasil é de raça, é de quem manda e quem obedece, quem trabalha e por quanto trabalha. Um reflexo da escravatura, que é recente, mostra que criou-se a memória social que um negro não deve receber nada, gerando violência e desigualdade. Enfim, quando você passa décadas sem pagar pelo trabalho de um grupo de pessoas, cria-se o hábito de que elas não valem nada. E essa ideia escravagista persiste no Brasil”.
A coordenadora do Coletivo Meninas Mahin, Ednusa Ribeiro, falou sobre Economia Colaborativa e o trabalho que o grupo faz para valorizar a cultura Afro. “Usando a metodologia do empreendedorismo, a mulher preta sempre se virou com o que tem. “A gente tem feiras em toda a cidade, trabalhando com impacto social”, explica.
Último palestrante do evento, o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, abordou a inserção da populaç!ao negra nos espaços públicos, nas faculdades. “Temos que continuar com esse trabalho educacional e de acesso a empregos de qualidade para atingirmos todo Brasil, pois os nossos números ainda são horríveis”, lamenta.
O reitor reforça ainda a importância das cotas, como ferramenta de inclusão social. “O racismo é um muro de contenção que faz com que o negro não saia do lugar. Se abrirmos um caminho nesse muro para permitir que a população negra respire, isso é um ato de salvação. Se não fossem as cotas, estaríamos ainda no país das trevas, do ponto de vista do tratamento igualitário para os negros”.
Em 2019, o Brasil vez alcançou a igualdade na proporção de pessoas pretas ou pardas cursando o ensino superior em instituições públicas brasileiras, chegando a 50,3%. Apesar desta parcela da população representar 55,8% dos brasileiros, é a primeira vez que os pretos e pardos ultrapassam a metade das matrículas em universidades e faculdades públicas.
Finalizando o evento, o artista Markinquinhos Gospel, um coletor da cidade de Niterói (RJ), apresentou o ‘Rap do Gari”, valorizando o trabalho da categoria.