Central de Cursos do Siemaco inaugura mais uma sala de aula no local de trabalho (Loga Vila Maria)
Na sala de aula da Vila Maria os olhares sinalizavam as expectativas dos alunos. Após a apresentação oficial e distribuição do material escolar começaria a nova chance para o desejo maior: aprender a ler e escrever.
Nos carteiras, alunos mais do que especiais, coletores da empresa Loga, cada um com uma história de vida dura que os distanciou do aprendizado formal. Todos eles, entretanto, sedentos de saber.
“É ruim pegar o holerite e não saber ler, não é mesmo? Estou orgulhoso demais pelo interesse de vocês, companheiros! A jornada será muito grande, mas não se dêem por vencidos e venham para a sala de aula, pois vocês irão subir à ladeira sem problemas”, encorajou o diretor do Siemaco e também coletor da Loga, Elmo Nicácio (Lagoa).
O coordenador operacional da Loga, Pedro Escudeiro, enfatizou que a empresa oferece oportunidades de crescimento e que saber ler e escrever é o primeiro passo a ser dado por eles para aproveitá-las. “A empresa só funciona com vocês!”
Coube ao gerente de Recursos Humanos da Loga, Roberto Marques, agradecer formalmente ao Siemaco pela parceria que beneficia os trabalhadores. Depois, encorajou os alunos/coletores, salientando que todos poderão contar com o apoio da empresa.
Educação Continuada transforma realidades
A coordenadora da Central de Cursos do Siemaco, Roberta Butolo, agradeceu a confiança da Loga, apresentou a proposta do curso e o professor Bruno, responsável pela turma. “Agarrem a oportunidade. O esforço diário, com disciplina e planejamento, garantirá o objetivo de todos aqui, de tornar a realidade diferente”, afirmou.
“A empresa dá oportunidades internas de crescimento profissional, mas eles tem de se capacitar”, lembrou a analista de treinamento e desenvolvimento, Fabiana Bispo Martins. Ela faz a interface entre a Loga e a Central de Cursos e coordena internamente a sala de aula da Garagem Jaguaré e agora da Loga. Ao todo são 45 alunos.
A parceria entre o sindicato e a empresa surgiu a partir da necessidade -e vontade- dos trabalhadores, quer pediram uma sala de aula no local de trabalho. A Loga garante a estrutura e o Siemaco o professor, o material didático e toda a retaguarda necessária.
Trabalho infantil
Os colegas José Arimateia da Gama, 50 anos e 20 na Limpeza Urbana, emocionou-se ao tentar descrever os seus planos. “Quero ler e escrever tudo”, resumiu.
Migrante do Ceará, ele chegou em São Paulo há 20 e foi direto para a Limpeza Urbana. Primeiro pela Vega e agora na Loga, sempre como coletor. Terceiro filho de sete ele trabalhou na roça desde pequeno para ajudar no sustento da família. “Os mais velhos nunca foram à escola”, contou.
A história dos filhos dele foi diferente. O primogênito, de 25 anos, terminou o ensino médio e o caçula, de quatro, frequenta a creche desde os oito meses. A rotina é pesada, pois o trabalhador acorda as quatro, começa na coleta as sete, dá um passada rápida em casa por volta das 19 e vai direto para a escola, retornando às 22 horas para descansar e dormir.
O pernambucano Antonio Suza da Silva, 47 anos e 15 anos na coleta, tem vida parecida. Ao lado dos pais e 11 irmãos trabalhou na roça até vir tentar a sorte em São Paulo. Apenas pôde freqentar a escola durante dois meses quando trabalhou quando a garagem da Loga era instalada na Mooca. “Eu sempre desejei ler e escrever… É difícil ficar perguntando, muita gente não gosta de ajudar.”
Colegas na empresa e fora dela, José Arimateia e Antonio Souza frequentam duas salas de aula: terças e quintas na Loga e diariamente o curso noturno. Eles apostaram na rotina dura pelo conhecimento e caminham juntos. Um apoiando o outro no trabalho, nos estudos e na vida.