Minha vida é um mar de rosas: dona Antonia e sua história na limpeza

 Minha vida é um mar de rosas: dona Antonia e sua história na limpeza

Algumas pessoas não conseguem passar sem serem notadas. Os cabelos brancos de dona Antonia de Oliveira Alves denunciam o que a sua jovialidade esconde: os seus 85 anos! Ela os prefere longos e soltos, combinando com as sobrancelhas “novas e definitivas”, presente de uma assessora parlamentar no Natal passado.  A elegância é discreta, mas a autoestina elevada.

A mais antiga prestadora de serviços de Asseio e Conservação da Câmara Municipal de São Paulo é a memória viva da casa! No dia 16 de fevereiro completa 42 anos no lugar, que conhece da garagem ao heliponto.

Depois de se aposentar como encarregada de limpeza ela não quis parar, e o então Presidente da Casa não deixaria mesmo… Foi contratada como auxiliar de limpeza pela empresa Liderança há dois anos, após a perplexidade do médico do trabalho.

“Vocês querem contratar uma mulher de 80 anos para a limpeza?”, “A senhora tem noção do serviço duro que irá realizar?” Contou divertidamente dona Antonia. Depois do exame admissional ele atestou: apta para o trabalho!

Deixar a chefia para ela não foi um problema, mas a solução. “Eu não conseguiria continuar com as tarefas administrativas, estava ficando pesado para mim”, justificou. Quanto ao salário menor, ela não reclama, pois tem o benefício da aposentadoria.

O segredo da longevidade laboral? Paciência é a chave da vida, e nunca dizer não. “Eu sempre respondo sim, depois vou resolver o problema, Quando não sei, pergunto como fazer”, ensina.

“Deus está acima de tudo. Eu sempre peço a Sua Santa Misericórdia e que Ele me dê forças e luz no trabalho na limpeza, que me sustenta.”

Dedicação à Câmara Municipal de São Paulo

A vida de dona Antonia passa pela Câmara Municipal de São Paulo. Muitas empresas se sucederam pelo posto, mas ela continua… Tornou-se patrimônio do lugar!

“Essa mulher, com oito filhos, vai ser como as outras e não vai parar no serviço”, ouviu ao assumir a função de encarregada, numa época que era difícil contratar profissionais da limpeza. Respondeu, taxativa: eu não vou faltar um dia, e cumpriu a promessa.

Uma vez ficou doente, foi ao médico que lhe deu um atestado. Ela guardou, esqueceu e foi trabalhar… Desde então acorda às 2 horas da madrugada, pois se acostumou. Pega o primeiro trem, o primeiro metrô e chega à Câmara às 4h45, embora o serviço comece às seis.

Ela cumprimenta os vereadores um a um e sempre é questionada: estão tratando a senhora bem e direito?  Enquanto, varre, passa pano e limpa, dona Antonia brilha e deixa brilhar o lugar…

No início, trabalhava das seis às 22 horas, turno que não existe mais, hoje em dia. Muitas vezes passou a noite em claro, em velórios. Amparando famílias e em vigília, como a única companhia de defuntos famosos, depois que todos iam para casa descansar.

O reforço no lanche da equipe da limpeza foi conquista de dona Antonia! Um vereador questionou se todos tinham café, pela manhã. Ela respondeu que sim, que o cafezinho era oferecido. Ele perguntou, mas e o pão? Não tinha. Desde então o pão com leite e pão e manteiga é garantido para todos.

Testemunha que a equipe da limpeza é cuidada com carinho por todos. “Se uma funcionária é vista chorando, logo vem alguém questionar os motivos. Somos valorizadas e bem tratadas,”

Admite que a vida laboral melhorou. “Hoje temos produtos e equipamentos melhores, que facilitam a limpeza e não requerem tanto esforço físico.

Questionada por que continua no emprego, ela responde: minha segunda casa é aqui e a limpeza é a minha vida. Eu cresci no meio disso tudo. Esta casa é abençoada por Deus!

Exemplo de resiliência e liderança

Resumir uma história tão rica não é tarefa fácil! Nascida em Garça, interior paulista, dona Antonia perdeu os pais num intervalo de três meses (a mãe não suportou a tristeza de assistir a morte do marido). Ainda criança teve de se mudar para a capital, para morar de favor na casa dos patrões da irmã, cozinheira e passadeira, numa mansão no bairro do Paraíso, em troca de lavar as paredes da casa.

Aos 16 mudou-se para uma pensão em São Miguel Paulista, a convite da lavadeira dos patrões, e foi trabalhador como frisadeira numa fábrica de utensílios domésticos esmaltados. Ficou no emprego oito anos.

Casou em 1951 e um ano depois teve o primeiro. Teve de pedir demissão após o nascimento do terceiro, para cuidar da prole. Deu a luz nos anos de 52, 55, 57, 60, 62, 63, 65 e 67!  O marido abandonou a família quando a menor ainda era bebê, mas ela os filhos sozinha criou e hoje todos os estão muito bem e por perto.

Teve 12 irmãos: seis homens, que morreram na primeira infância, mas pode conviver com as irmãs até adulta.  Uma delas com 101 anos! Dona Antonia, que guarda as datas como a precisão de historiadora, perdeu a conta dos descendentes depois dos tantos bisnetos. 

Para manter a saúde, dorme cedo e capricha na alimentação. A maior preocupação? O futuro da filha caçula, de 51 anos, que tem uma leve deficiência intelectual, não se casou e mora com ela. “Ela vai ficar com a minha casa, guardei o dinheiro da minha rescisão contratual de encarregada para ela, mas são muitas as despesas. Quero que ela tenha direito a minha aposentadoria e vou procurar o sindicato para saber como fazer.”

Relação com o Siemaco

“Devo a educação dos meus filhos ao sindicato! Todos os anos um deles ia até o Siemaco e voltava para casa com duas sacolas imensas e cheias de material escolar. O sindicato também garantiu a eles o uniformes e sapatos que eu não poderia comprar”, conta agradecida.

Ser filiada ao Siemaco, para ela, era natural. Conta que sempre usufruiu das clínicas médicas, principalmente em Artur Alvim, embora ela e os filhos também tenham sido atendidos perto da sede, na Rua Vitorino Carmilo. Garante que sempre encontrou no sindicato a orientação e apoio que precisava e precisa, tanto no trabalho como na vida.

A felicidade de dona Antonia contagia. Há muitos anos, um vereador perguntou a ela quais os motivos tinha para ser feliz, trabalhando na limpeza, mãe de oito filhos, separada do marido. E não titubeou e respondeu: minha vida é um mar de rosas.

O Siemaco SP tem muito orgulho de representá-la, dona Antonia!