Vozes que Transformam: Reflexões e Lutas no Encontro do SIEMACO-SP
Resistência, igualdade e transformação. Foi em torno desses temas que, ontem, o auditório do SIEMACO São Paulo recebeu um evento marcante, organizado por Silvana Souza, diretora do sindicato, para debater o racismo e as desigualdades que ainda persistem em nossa sociedade. Sob uma perspectiva política e sindical, o encontro reafirmou o papel das organizações trabalhistas como agentes de mudança e combate às injustiças sociais.
Com a mediação de Victor Oliveira, jornalista da agência Alma Preta, e a participação de lideranças e militantes, o evento foi mais do que um espaço de diálogo: foi um momento de aprendizado coletivo, marcado por histórias reais que desnudaram os desafios de enfrentar o racismo em diferentes contextos.
Uma pauta diária
Logo na abertura, Moacyr Pereira, presidente da CONASCON e diretor tesoureiro do sindicato, destacou a necessidade de colocar o racismo como uma pauta constante. “O racismo deve ser debatido diariamente. Não podemos permitir que ele seja visto como um tema reservado a uma data ou evento. É uma questão que está enraizada nas estruturas da nossa sociedade e, por isso, precisa ser enfrentada com coragem e persistência”, afirmou. Ele também abordou a infeliz declaração do ex-presidente sobre quilombolas, classificando-a como um exemplo claro de como o preconceito ainda é legitimado por lideranças públicas.
Histórias que conectam vidas e lutas
As convidadas trouxeram ao palco suas vivências particulares e desafios enfrentados no combate ao racismo. Cada relato foi uma janela para realidades que muitas vezes passam despercebidas, mas que refletem a resistência cotidiana das mulheres pretas.
Márcia Adão trouxe um relato que misturou coragem e realidade. “O preconceito nem sempre chega em palavras. Ele está no olhar que nos avalia e conclui, antes mesmo de ouvir nossa voz, que não pertencemos. Resistir é não apenas ocupar esses espaços, mas transformá-los. É abrir portas para quem vem depois, para que nenhuma mulher preta sinta que precisa lutar sozinha”, afirmou. Ela destacou ainda como a luta por diversidade no trabalho não é uma questão simbólica, mas estrutural: “Campanhas como a #RespeiteTodoMundo mostram que respeitar as diferenças não é só um valor; é uma prática diária que transforma vidas.”
Cléria Valeriano, com sua vasta experiência em Recursos Humanos, relatou um episódio que sintetiza o impacto da representatividade. “Um dia, uma menina da empresa me disse que havia decidido estudar porque viu onde eu cheguei. Para ela, foi uma prova de que era possível. Eu fiquei emocionada, porque é isso que buscamos: ser um exemplo que mostre que vale a pena lutar, se capacitar e acreditar em um futuro melhor. Nossa presença nesses espaços é uma semente de transformação”, declarou. Cléria reforçou que a educação e a formação profissional são ferramentas essenciais para quebrar barreiras e abrir caminhos. “Não se trata apenas de ocupar um cargo; trata-se de fazer com que mais pessoas vejam que também podem ocupar esses espaços.”
Já Cátia Laurindo, conhecida como Nega Show, trouxe uma narrativa de dor e superação. Sua luta pela igualdade de gênero e raça ganhou força após a perda de sua filha para o feminicídio. “O luto me ensinou que a dor precisa ser transformada em ação. Não podemos deixar que as tragédias que vivemos caiam no esquecimento. A minha luta não é só por mim, mas por todas as mulheres pretas que enfrentam violências diárias e são esquecidas por uma sociedade que insiste em ignorá-las”, declarou, reafirmando seu compromisso com a justiça social.
Um encerramento que provoca reflexão
Encerrando o encontro, Silvana Souza, que articulou o evento com sensibilidade e precisão, fez um apelo contundente à ação coletiva. “O movimento sindical não pode ser neutro diante das desigualdades. É nosso dever ser a voz de quem foi silenciado, de quem ainda luta para ser ouvido. Este espaço não é apenas para ouvir, mas para agir. Se sairmos daqui sem a convicção de que mudanças reais são urgentes, estaremos falhando com aqueles que confiaram em nós”, concluiu Silvana.
*por Fabiano Polayna (MTb 48.458/SP)