Siemaco celebra com o Selur oito anos do Pacto da Pessoa com Deficiência
Para cumprir a Lei 8213, que desde 1991 regulamenta a contratação de pessoas com deficiência em todos os segmentos laborais, os sindicatos patronal e dos trabalhadores assumiram o desafio de ir além. Não apenas garantir o emprego, mas a empregabilidade no segmento da Limpeza Urbana.
Firmado há anos, o Pacto Coletivo para Inclusão da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho no Estado de São Paulo ( assinado pelo Siemaco, a Femaco, o STERIIISP, o Selur e o Ministério do Trabalho e Emprego do Estado de São Paulo) soma esforços para fazer valer a chamada Lei de Cotas. Desde então, 50% dos postos de trabalho pretendidos já foram preenchidos. Socialmente, entretanto, as ações se multiplicaram em salas de aulas com a capacitação de surdos e pessoas com deficiência, dentro do Programa Selur Social.
Celebrando um pacto mais do que positivo
Nessa quarta-feira (01), o presidente do Selur, Ariovaldo Caodaglio, recebeu trabalhadores, parceiros e autoridades para comemorar oito anos de conquistas. Ele fez um balanço dos resultados e lembrou que o pacto é mais do que um compromisso, é a chance de mudar a realidade.
“Um dia alguém vai contar essa história e destacar o papel da Limpeza Urbana na promoção da inclusão”, previu. Relembrando que ao assumir o compromisso de cumprir a lei de cotas, no passado, ele se me questionou sobre o que poderia ser feito diante de tantas dificuldades.
“A sociedade é feita de diversidades e o pacto tem de ser renovado todos os dias”, ressaltou. Aproveitou para indagar sobre o papel do Estado na garantia da mobilidade urbana, salientando que a responsabilidade tem de ser compartilhada.
Representando o Siemaco, o Diretor de Saúde e Segurança do Trabalho, João Capana, afirmou que o pacto, mais do que abrir portas para o trabalho, garante acesso ao mundo para a pessoa com deficiência. O presidente Moacyr Pereira, em depoimento em vídeo, salientou que o pacto é um instrumento que transforma a sociedade.
José Carlos do Carmo, Auditor Fiscal da Superintendência do Tribunal Regional do Trabalho e Emprego (SP), ponderou que, apesar dos avanços, o maior desafio pela frente será cumprir a outra metade das cotas. “Empregar a pessoa com deficiência não é um ato de benemerência das empresas, mas uma obrigação legal”, disse contundente.
“Cinquenta por cento das cotas estão cumpridas, mas o que fazer com o restante? O maior desafio será atingir 100%!”, provocou. Disse que o Ministério está investigando as demissões por justa causa, e orientou: a empresa de tem preencher a vaga sempre que um trabalhador for demitido.
Desafios a vencer na Limpeza Urbana
Apesar de o pacto garantir o acesso aos postos de trabalho, as características das funções na Limpeza Urbana tornaram o cumprimento da lei um desafio. A lei teve de ser cumprida com responsabilidade, afinal as condições de trabalho nas ruas, aterros etc., nem sempre favoráveis e acessíveis, exigem esforços recobrados na seleção, treinamento e acompanhamento para adequação e manutenção dos funcionários.
Para nortear as ações, o Selur realizou um estudo amplo que mapeou, dentro do universo da Limpeza Urbana, 48 funções e as habilidades necessárias para o exercício da atividade, como as demandas físicas e mentais. Um estudo de campo norteou os riscos, as aptidões, restrições e oportunidades para uma pessoa com deficiência assumir uma vaga de emprego.
“Cumprir a cota é um desafio a mais na nossa atividade, pois nem todas as funções podem ser desenvolvidas por pessoas com deficiência. A maioria do trabalho é realizado externamente, fora dos escritórios, em condições adversas, alertou o diretor de relações de trabalho e relações sindicais, Adalberto Oliveira. Ressaltou a dificuldade de se adequar tecnicamente ,e com a segurança necessária, o trabalho na Limpeza Urbana.
Provando que as competências superam limitações físicas
O auditório do Braston Hotel ficou repleto de trabalhadores que mostraram que a diferença soma, e não deve excluir. Foram inúmeros exemplos de competência e superação dos trabalhadores com deficiência, e de cumplicidade com aqueles que não tem nenhuma deficiência.
Messias Saturnino Cardoso, 53 anos, trabalha na Limpeza Urbana há oito anos e meio. Ele consegue carregar até três sacos (resíduos) de uma só vez com a mão direita, e quatro com a esquerda. O fato de Messias ter perdido três dedos num acidente de trabalho não o tirou do trabalho, mas deixou o trauma da injustiça. “Foi irresponsabilidade de um colega”, contou.
A surdez de Paulo de Lima Santos também não o impediu de trabalhar na comunidade, coletando resíduos. Ele, inclusive, pela concentração e atenção visual reforçada devido à falta de acuidade auditiva acaba por orientar os colegas, não surdos. “Sou muito detalhista e me dou muito bem com todos”, contou com a ajuda de uma intérprete de libras (a linguagem dos sinais).
Ele conta que o encarregado havia bebido durante o trabalho e apertou a prensa contra a sua mão, quando ele trabalhava numa serralheria. Em consequência ele perdeu os dedos indicador, médio e anular. Na mão direita sobraram o polegar e o mínimo, que ele sabe usar com muita competência. Escrever, no entanto, fica mais difícil. “Eu consigo, mas dói muito dos dedos”, contou.
Compromisso com o social
Parceiro do Selur na capacitação profissional, o presidente emérito do Rotary Club e chanceler das Faculdades Rio Branco, Eduardo de Barros Pimentel, afirmou que mais do que viabilizar o emprego, a lei de cotar oferece dignidade a pessoa com deficiência.
Ao longo de oito anos, 13 turmas de alunos se formaram nos cursos de capacitação para pessoas com deficiência e capacitação para surdos, numa parceria realizada entre o Selur e as Faculdades Rio Branco. A novidade, agora, é o curso Português escrito para surdos, que pretende firmar o idioma como a segunda língua entre os surdos, já que Libras é a oficial.
Já o site Selur Social disponibiliza um cadastro com mais de cinco mil empresas que oferecem nada menos do que 30 mil vagas de empregos. Mais informações através do endereço eletrônico: www.selursocial.org.br